sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Humor e veneno

É impressionante como o povo se queixa sobre o trânsito nas grandes cidades. Já prestou atenção nas reportagens em que o entrevistado é aquele cara dentro de um carro, com a expressão aborrecida e um batido discurso recheado de queixas e lamúrias?
Certo. Então venho aqui propor uma troca.
Que tal se pegássemos toda a galera que desfila com seus super carros, "poisés" ou importados, quitados ou financiados, GNVs ou flex, e os colocássemos para desfrutar da fantástica experiência do transporte público?
Veneno? Não. Revolta? Também não. Discurso sobre distribuição de renda? Menos ainda.
O que eu pretendo é simplesmente justificar a tese que levei ao conhecimento de amigos e colegas de trabalho sobre "A colaboração do transporte público no desencadeamento dos mais terríveis instintos selvagens do ser humano".
Engraçado, o que a princípio era um desabafo tornou-se material para fartas horas de conversas, comentários, causos e fatos dramáticos, já que todo o ser humano que um dia na vida dependeu de transporte público (ônibus, trens, vans, metrôs e afins) tem uma experiência pra contar.
Hoje mesmo peguei o coletivo costumeiro, dei bom dia ao motorista costumeiro, um sorriso ao cobrador costumeiro, tentei me espremer entre a muvuca costumeira, pedi minhas licenças costumeiras e ainda assim, com toda a educação, paciência, cordialidade costumeiras fui insultada por uma fulana que costumeiramente toma o mesmo ônibus que eu.
Vamos analisar a situação: a peste, do alto de seus dois metros de altura e 130 quilos de banha gritou em alto e bom tom que eu do baixo dos meus 1,62 e 55 quilos estava atrapalhando a passagem dela. Pode?
Agora, que ser humano por mais cheio de humor que estivesse numa manhã ensolarada de sexta feira poderia permanecer neste estado de graça após um incidente deste tipo?
Sabe o que aconteceu? Primeiramente ignorando a troglodita e segundos depois utilizando de todo o meu repertório de injúrias para xingá-la (em pensamento, é claro), tive uma manhã de cão e um dia totalmente atribulado. E tudo por que? Porque a minha idéia fixa, cada vez que eu me lembrava da cena, era rasgar aquela criatura com minhas delicadas unhas e picá-la em milhares de pedacinhos, até que cada um deles ficasse no tamanho ideal para ocupar o corredor do coletivo.
Acha isso subversivo? É apenas o começo de uma série de comentários a respeito da periculosidade dos indivíduos que se locomovem coletivamente!

Por Suzana Ulba