segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Meus Poetas

Comecei a ler Drummond
E percebi o quanto é bom
Agora vejo prosa e verso
E por nada eu contesto
Tem poesia pra caramba nesse universo.

Comecei a ler Vinícius
E descobri que é difícil
Viver sem um grande amor
Sem ele, do que seria o autor?

E com Bandeira, que viagem!
Pra Pasárgada eu rumei
Passeei pela gramática
E percebi o quão pouco eu sei.

Por Suzana Ulba

sábado, 22 de dezembro de 2007

Carta ao Papai Noel

Querido Papai Noel

Em tempos de alto consumo, fujamos da trivialidade
Quero pedir ao senhor, menos banalidade
Não é critica social, pra isso nem tenho moral
Estou apenas tentando ser menos artificial

Hoje a ordem é comprar
Vamos minha gente!
Simbora pra 25 gastar!

Pois eu quero é dormir
Já cansei de consumir

Consumo o ano inteiro
E ainda fico no aperreio

Natal meu amigo, que é isso
É hora de por um freio!

Se possível, bom velhinho,
Me ajude nesta empreitada

Quero consumir bastante
Os livros da minha estante
Os beijos do meu amante
Os meus amigos falantes

Quero gastar vocabulário
E tirar meus sonhos do armário
Quero andar mais á vontade
Com a minha simplicidade

Se eu quiser eu vou comer
Sem pensar em emagrecer
Se tiver saudade vou ligar
Sem pensar em atrapalhar
E se alguém não gostar
Esse é que vá se catar!

Não vou fazer promessa
Pra isso sou ruim a beça
Quero só pra começar,
Um belo 2008 comemorar!

Por Suzana Ulba

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Humor e veneno

É impressionante como o povo se queixa sobre o trânsito nas grandes cidades. Já prestou atenção nas reportagens em que o entrevistado é aquele cara dentro de um carro, com a expressão aborrecida e um batido discurso recheado de queixas e lamúrias?
Certo. Então venho aqui propor uma troca.
Que tal se pegássemos toda a galera que desfila com seus super carros, "poisés" ou importados, quitados ou financiados, GNVs ou flex, e os colocássemos para desfrutar da fantástica experiência do transporte público?
Veneno? Não. Revolta? Também não. Discurso sobre distribuição de renda? Menos ainda.
O que eu pretendo é simplesmente justificar a tese que levei ao conhecimento de amigos e colegas de trabalho sobre "A colaboração do transporte público no desencadeamento dos mais terríveis instintos selvagens do ser humano".
Engraçado, o que a princípio era um desabafo tornou-se material para fartas horas de conversas, comentários, causos e fatos dramáticos, já que todo o ser humano que um dia na vida dependeu de transporte público (ônibus, trens, vans, metrôs e afins) tem uma experiência pra contar.
Hoje mesmo peguei o coletivo costumeiro, dei bom dia ao motorista costumeiro, um sorriso ao cobrador costumeiro, tentei me espremer entre a muvuca costumeira, pedi minhas licenças costumeiras e ainda assim, com toda a educação, paciência, cordialidade costumeiras fui insultada por uma fulana que costumeiramente toma o mesmo ônibus que eu.
Vamos analisar a situação: a peste, do alto de seus dois metros de altura e 130 quilos de banha gritou em alto e bom tom que eu do baixo dos meus 1,62 e 55 quilos estava atrapalhando a passagem dela. Pode?
Agora, que ser humano por mais cheio de humor que estivesse numa manhã ensolarada de sexta feira poderia permanecer neste estado de graça após um incidente deste tipo?
Sabe o que aconteceu? Primeiramente ignorando a troglodita e segundos depois utilizando de todo o meu repertório de injúrias para xingá-la (em pensamento, é claro), tive uma manhã de cão e um dia totalmente atribulado. E tudo por que? Porque a minha idéia fixa, cada vez que eu me lembrava da cena, era rasgar aquela criatura com minhas delicadas unhas e picá-la em milhares de pedacinhos, até que cada um deles ficasse no tamanho ideal para ocupar o corredor do coletivo.
Acha isso subversivo? É apenas o começo de uma série de comentários a respeito da periculosidade dos indivíduos que se locomovem coletivamente!

Por Suzana Ulba

sábado, 6 de outubro de 2007

Vitral

Foto: Tatiana Alcalde

Mais algumas lembranças de Paris
e das muitas igrejas que visitei por lá ...
Foto: Tatiana Alcalde
Foto: Tatiana Alcalde


domingo, 19 de agosto de 2007

Coisas de tecnologia e de jornalista

Em tempos de tecnologia e coisas modernas, meu gravador de fita cassete já estava ultrapassado e para entrar de vez na era digital, comprei um gravador ... digital!
Namorei uma marca por meses e no fim adquiri uma genérica qualquer.
Ah! Se arrependimento matasse essas linhas não seriam escritas!
Aparentemente é fácil manusear o bicho. Consigo gravar e escutar as entrevistas, mas não tinha reza “braba” que me ajudasse a passar as gravações para o computador!
O manual era péssimo, mal escrito e sem informações claras, e já estava cansada de tentar entender como tudo se processava.
O “santo” que fez o milagre, depois de meses de tentativa, foi um rapazinho do departamento de informática.
O momento era desesperador. Emprestei o danado para outra jornalista, que pre-ci-sa-va da gravação em um CD! Foi um tarde inteira de trabalho para entender como o software funcionava, mas no fim tudo deu certo.
Desde então, não me atrevi a seguir as instruções de uso do tal software escritas em pedaço de papel em substituição ao manual. Na verdade, até hoje. Outro momento desesperado: várias faixas de gravação e em várias pastas diferentes, que não consigo acessar pelo gravador ...
Não teve jeito, tive que buscar o rascunho de manual e tentar. Não é que funcionou!
Ufa!

sábado, 18 de agosto de 2007

Break

Sábado, já passa das três da tarde e ainda trabalho.
Olhos fitos no computador, dedos velozes no teclado e concentração no texto.
O cafézinho com licor de avelã pede licença.
Momento de pausa para relaxar.
Sinto o cheirinho de bolo de fubá saindo do forno. Que delícia!
Volto ao trabalho ...

domingo, 12 de agosto de 2007

Sossego


Foto: Tatiana Alcalde

Você consegue ouvir o som das ondas do mar?
Feche os olhos e tente ...

domingo, 5 de agosto de 2007

Que tal um passeio?


Foto: Tatiana Alcalde

Rio Uruguai: rio brasileiro que nasce na Serra Geral, forma-se pela junção dos rios Canoas e Pelotas, na divisa entre os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Atua como fronteira entre Brasil, Uruguai e Argentina.


Verão
Dia de sol
Um sábado perfeito para um passeio
Um convite para fazer nada
Reunir amigos no camping
Fazer churrasco
Mergulhar no rio
Dar boas risadas
Tirar uma soneca à sombra de uma árvore qualquer
Ou como los hermanos dizem "hacer la siesta" ou "dormir una siestita"

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Da janela do quarto


Foto: Tatiana Alcalde


Salvador. Bahia.
Da janela do quarto, uma visão diferente do concreto de edifícios e da janela de vizinhos.
Foram alguns dias que pude deixar-me acordar pelo nascer do Sol e ao abrir os olhos receber o novo dia com uma bela vista!
Que belo "Bom Dia"!

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Desabafo

Não sou comentarista de política e também não sou especialista no assunto. Sou brasileira e reconheço que as tristes notícias sobre o acidente com o Airbus da TAM, a crise aérea e tantas outras, entre denúncias e escândalos de corrupção que se sucedem, deixam clara a necessidade de um governo mais eficiente no Brasil.
Quantas outras pessoas terão suas vidas sacrificadas até que a população acorde de sua comoção e exija do governo o que realmente deveria estar fazendo?
Até quando permitiremos o desrepeito das autoridades que tripudiam em cima do voto de confiança dado a eles?
Alguns dizem que as vaias para o Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante a abertura do XV Jogos Panamericanos, no Maracanã lotado, são desrepeitosas. Discordo. Afinal, o exemplo vem de cima e há anos.
Uma das imagens recentes a que é atribuída essa falta de respeito é a do gesto do assessor da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia. Porém, pior foi a condecoração dos diretores da Anac, a Agência Nacional de Aviação Civil, por honra ao mérito. Que honra? Que mérito?
Até quando os políticos ficarão de olhos fechados para a realidade, mas de olhos bem abertos para os próprios interesses?
O governo apela para discursos emocionais e afirma que está próximo do povo e de sua dor. Porém, o fato é que estão distantes. Cegos pela vaidade do poder, não podem mais ver as necessidades do País, tão pouco soluções – quiçá as que são urgentes e prioritárias a curto, médio e longo prazo. Quantas vidas ainda serão ceifadas em nome do lucro de empresas, ganância de políticos e descaso das autoridades em administrar o Brasil para os brasileiros?

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Rugas temporárias



Rir até sentir o rosto doer ... Rir até chorar ...
Os olhos se contraem e formam pequenas rugas de expressão. O movimento exercita os músculos do rosto e especialistas garantem que faz muito bem ao coração.
Benditas rugas! Sinais escancarados de alegria!

"O coração alegre aformoseia o rosto,
mas pela dor do coração o espírito se abate"

Provérbios 15:13

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Encontros e despedidadas


Foto: Tatiana Alcalde

(...)

E assim, chegar e partir
São só dois lados
Da mesma viagem
O trem que chega
É o mesmo trem da partida

A hora do encontro
É também despedida
A plataforma dessa estação
É a vida desse meu lugar

“Encontros e Despedidas”
(Milton Nascimento / Fernando Brant)

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Arte nos céus


Foto: Tatiana Alcalde

Mais um entardecer.
O cenário dessa vez é Salvador (BA).
Foi como ver um artista dar suas pinceladas de tinta em uma grande tela.
Uma não. Várias.
Começando com cores fortes. Amarelo. Laranja. Vermelho.
Uma mistura!
Até que as nuvens ganharam outros tons ... mais sóbrios.
E o dia foi dando lugar à noite.
Com certeza Deus é um artista.

sábado, 30 de junho de 2007

Ontem e hoje



Pelo retrovisor enxergamos tudo ao contrário
Letras, lados, lestes
O relógio de pulso pula de uma mão para outra e na verdade...
nada muda
A criança que me pediu dez centavos é um homem de idade
no meu retrovisor
A menina debruçando favores toda suja
É mãe de filhos que não conhece
Vendeu-os por açúcar
Prendas de quermesse
A placa do carro da frente se inverte quando passo por ele
E nesse tráfego acelero o que posso
Acho que não ultrapasso e quando o faço nem noto
O farol fecha...
Outras flores e carros surgem em meu retrovisor
Retrovisor é passado
É de vez em quando... do meu lado
Nunca é na frente
É o segundo mais tarde... próximo... seguinte
É o que passou e muitas vezes ninguém viu
Retrovisor nos mostra o que ficou; o que partiu
O que agora só ficou no pensamento
Retrovisor é mesmice em dia de trânsito lento
Retrovisor mostra meus olhos com lembranças mal resolvidas
Mostra as ruas que escolhi... calçadas e avenidas
Deixa explícito que se vou pra frente
Coisas ficam para trás
A gente só nunca sabe... que coisas são essas

Amem
O Teatro Mágico
Composição: Fernando Anitelli

terça-feira, 26 de junho de 2007

Mágico


"Sem horas e sem dores
Respeitável público pagão
Bem vindo ao teatro mágico!
sintaxe a vontade..."

Assim começou o show do Teatro Mágico!

Se você não conhece o grupo, vale uma visitinha no site http://www.oteatromagico.mus.br/

Todas as músicas podem ser baixadas em MP3 ...

terça-feira, 12 de junho de 2007

Saudades ...


Foto: Tatiana Alcalde

... de passear livre da pressão do tic-tac do relógio ... de andar devagarzinho para admirar a paisagem e guardar uns retratos na memória ... de ver o céu mudando de cor à medida que caminho às margens do Sena ... de sentir o vento acariciar os fios do meu cabelo ... de sentir os últimos raios de Sol em um dia frio ... de sentir o entardecer ... fecho os olhos e ainda sinto ...

terça-feira, 22 de maio de 2007

Grazie, Signore ...



... pela vida, pelas pessoas que cercam e me amam, pelas surpresas e pelo carinho de cada um ao tornar essa data especial, por esses 26 anos por todos os outros que virão ...

Parece que foi ontem



A foto é uma recordação antiga, já gasta pelo tempo.
Tempo que passa. Tempo que deve ser bem aproveitado a cada momento.
O ontem não volta mais e o amanhã é sonho, expectativa ...
No presente, completo mais um ano. Aprendo com o passado e trabalho pelo amanhã; para a realização de sonhos!
Hoje, mais um aninho se completa, mais uma primavera. Fico mais bonita (e modesta) e mais velha ...

domingo, 20 de maio de 2007

Sem palavras


Foto: Tatiana Alcalde / Águas de Lindóia


Fim de tarde.
Fim de mais um dia.
Espetáculo da natureza.
Momento de estranho silêncio ... contemplação.

sábado, 12 de maio de 2007

Temporal e eterno

Foto: Tatiana Alcalde


"Para tudo há uma ocasião certa;
há um tempo certo para cada propósito debaixo do céu:
Tempo de nascer e tempo de morrer,
tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou,
tempo de matar e tempo de curar,
tempo de derrubar e tempo de construir,
tempo de chorar e tempo de rir,
tempo de prantear e tempo de dançar,
tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntá-las,
tempo de abraçar e tempo de se conter,
tempo de procurar e tempo de desistir,
tempo de guardar e tempo de jogar fora,
tempo de rasgar e tempo de costurar,
tempo de calar e tempo de falar,
tempo de amar e tempo de odiar,
tempo de lutar e tempo de viver em paz ...

... Ele fez tudo apropriado ao seu tempo.
Também pôs no coração do homem o anseio pela eternidade;
mesmo assim ele não consegue compreender inteiramente o que Deus fez."

Eclesiastes 3:1-8 e 11

segunda-feira, 30 de abril de 2007

Travessia


Foto: Tatiana Alcalde

“Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas... Que já têm a forma do nosso corpo... E esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares... É o tempo da travessia... E se não ousarmos fazê-la... Teremos ficado... para sempre... À margem de nós mesmos.”
(Fernando Pessoa)

sexta-feira, 27 de abril de 2007

Os santos dos tropeiros


Foto: Tatiana Alcalde

A religião está presente na cultura tropeira e mescla os ensinamentos católicos com crendices populares e formas próprias de adoração.
Três santos são considerados protetores dos tropeiros. São Benedito, São Sebastião e Santa Rita. De São Benedito diz-se que tinha uma tropa de mulas, todas pretas. Já, São Sebastião tinha uma de mulas vermelhas.
A Missa do Tropeiro, celebrada ao ar livre durante a Festa do Tropeiro, apresenta um aspecto peculiar. Os cânticos são em ritmo de moda de viola sertaneja ou moda de viola.

sexta-feira, 20 de abril de 2007

Festa do tropeiro: festa caipira e de peão boiadeiro


Tropa e tropeiro aguardam o início do Desfile de Tropas ou Cavalgada, uma das atrações da Festa do Tropeiro.
Foto: Tatiana Alcalde

A resposta à pergunta talvez seja que tudo é uma coisa só. Veja a situação.
Um pouco perdidos por não saber o roteiro da Festa do Tropeiro, vamos até o coreto onde havia uma grande faixa com "Informações Turísticas".
Como ninguém é de ferro, aproveitamos para perguntar onde poderíamos comer. Com a resposta rápida e curta, os jovenzinhos nos indicaram o Casarão Tropeiro, logo à frente, e nos entregaram um folheto com a programação da festa. Nele constava feiras de artesanato, comidas típicas, venda de santos, "shou" e shows. O erro na grafia foi informado antes mesmo que pudéssemos percebe-lo.
Porém, o que nos chamou a atenção foi a foto ilustrativa de um peão de boiadeiro montado num cavalo e o destaque para o show de Frank Aguiar.
Outro detalhe curioso: na parede do restaurante em que almoçamos, seguindo a dica da rapaziada, havia uma série de cartazes da Festa do Tropeiro desde a segunda edição, ocorrida em 1981.
Em todos eles a figura destacada é o tropeiro. E a forma mais usada para representar o tropeiro era o desenho. A fotografia passou a ser usada em cartazes recentes, como o da 21ª edição, do ano de 2001.

terça-feira, 17 de abril de 2007

Um sorriso e uma careta


Foto: Tatiana Alcalde

"Ah! Agora você está perigosa, está armada". Esse foi o comentário que ouvi de um amigo fotógrafo quando soube que eu acabava de comprar uma lente Canon 75-300 mm.
Porém, não me senti "armada" ao circular no meio da multidão pelas ruas de Silveiras (SP), durante a Festa do Tropeiro.
A lente não intimidava, pelo contrário, atraía olhares curiosos, tímidos, observadores. Não havia como passar desapercebida.
Olhar as pessoas e os acontecimentos ao meu redor por meio de uma lente não foi obstáculo para interagir com o que foram focalizados.
Essa foi uma experiência carregada por lembranças de sorrisos, caretas, conversas e pessoas que andavam pra lá e pra cá para fugir da lente.
Entre tantas reações, guardo a de duas meninas. Ao perceberem que estavam sendo focalizadas pela câmera, riram tímidas, olharam uma para outra, e entendendo-se pelo olhar começaram a fazer caretas. Há também a do homem que começou a tocar pandeiro com mais animação e depois pediu um trocado para molhar a boca no boteco da esquina. E há a reação de duas mulheres. "Olha! Vai sair na Globo", disse uma delas. Vieram me perguntar quando iria aparecer na telinha da Globo e em qual programa. Motivo: queriam que o chefe assistisse e assim confirmasse que realmente tinham ido à Festa do Tropeiro. Nesse caso, toda tentativa de explicação foi frustrada.
O homem pode fazer da câmera um escudo para si ou uma ponte para interagir com quem está do outro lado.
Não há um poder mágico que a lente exerça sobre as pessoas. Prevalece, em quem opera a máquina, o desejo de ver por um novo ângulo.

segunda-feira, 9 de abril de 2007

Ele veste a camisa


Foto: Tatiana Alcalde


Caipira: homem do campo; do interior; roceiro; indivíduo acanhado; tímido; tabaréu; caiçara; capiau. (Dicionário brasileiro Globo)

Era dia do For-Mula, a corrida de mulas que tradicionalmente acontece em Silveiras durante a Festa do Tropeiro.
Não era preciso pagar ingresso. Bastava entrar, puxar uma cadeira e sentar no chão mesmo.
Os únicos assentos disponíveis para os espectadores eram feitos de terra e mato, acompanhados de alguns carrapatos se você fosse o sortudo da vez.
Totalmente caipira.

sexta-feira, 6 de abril de 2007

Uma corrida diferente


Foto: Tatiana Alcalde

Não havia o roncar de motores, somente o zunido de insetos. Era a For-Mula.
O quê? É! For-Mula, uma corrida de mula, responde o rapazinho.
Um evento que atraiu muitas pessoas da região de Silveiras (SP) e do Vale Histórico, além dos curiosos, como eu. Ele acontece em agosto, durante a Festa do Tropeiro.
Esperamos duas horas pelo início da corrida nos únicos assentos do circuito, terra e mato, acompanhados de carrapatos e torcedores ora irritados com o atraso, ora animados com o aquecimento dos bichinhos e dos montadores.
Podia ouvir comentários dignos de torcedor que é membro da família do competidor, o típico palpiteiro, e outros dignos de locutor entendido no assunto. "Por que ficar judiando do animal antes da corrida?!". "Coitado, assim o animal ficará cansado e quando chegar a hora de correr pra valer, a mula empaca!".
Nos últimos preparativos para a corrida, alguns homens demarcavam o circuito com varas. Se um competidor ultrapassasse duas vezes o limite demarcado, era automaticamente desclassificado. Fato esse que aconteceu pelo menos três vezes.
Outros corredores nem chegaram a completar a prova por não conseguir domar a mula.
Foi divertido.

domingo, 1 de abril de 2007

Café tropeiro


Foto: Tatiana Alcalde

Você já provou café tropeiro?
Não sabe o que está perdendo!
Diferente do café que estamos acostumados a fazer (a maioria de nós, pelo menos), o café tropeiro é preparado sem coador.
Quem nos conta a receita é Maria Mendes, prima do tropeiro Josias Mendes Florêncio.
Primeiro, ela coloca a água para ferver no fogão a lenha. Quando estiver fervendo, adiciona o pó de café. Depois de misturar bem, ela retira do fogo um pedaço de carvão em brasa e coloca no café, mexendo um pouco. Espera o pó baixar e serve.

quarta-feira, 28 de março de 2007

Simplismente simples


Foto: Tatiana Alcalde

Estátua do tropeiro Josias Florêncio: em 2002 estava sendo esculpida para ser colocada no portal de entrada da cidade de Silveiras (SP) ao lado da estátua de uma mula, que já estava no local.


Dizem que o mais fascinante assunto para uma câmera é gente. E é gente que mantém viva a cultura dos tropeiros. Na simplicidade, sem pretensão de ser algo além do que é, ou de fazer e receber reconhecimento público por isso. Ouvi Josias Florêncio, Maria Mendes, Joaquim Governo e Preguinho. Gente que fala do que vive sua cultura e a saudade do tropeirismo como se fosse tão real para nós quanto o é para eles. Gente que não vê nada de extraordinário em ter sido tropeiro, ferreiro ou em fazer um café tropeiro. Gente que não entende, por tamanha simplicidade e não ignorância, o fato de esculpirem uma estátua dela e a cercarem com perguntas para saber ao máximo toda história, cotidiano e hábitos de um tropeiro. Gente cujo sonho era um dia almoçar na casa de um amigo que mora no centro da cidade, pensando que lá a comida deveria ser diferente da que come no próprio bairro, mais afastado. A admiração e o respeito por essa simplicidade mantém uma cultura viva.

terça-feira, 27 de março de 2007

Símbolo do tropeirismo


Foto: Tatiana Alcalde

Josias Mendes Florêncio, tropeiro por 50 anos, faz jacás (também chamado de balaio) para incrementar a aposentadoria. Foi alçado símbolo do troepirismo em Silveiras (SP) e na região do Vale Histórico, tanto por sua habilidade "tropeira" quanto por seu carisma e desenvoltura em passar seus conhecimentos.


Um pouco de história não faz mal a ninguém

Durante séculos a riqueza do Brasil colônia circulou nos cascos das mulas. Junto com as entradas e bandeiras, os tropeiros expandiram fronteiras, criaram vilas e cidades e integraram um país imenso.
Se não fossem eles, a fome que assolou a região mineradora no fim do século 15 e começo do século 16 teria dizimado todos que foram às Minas Gerais atraídos por ouro e diamantes.
A salvação veio no lombo das tropas, que circulavam transportando alimentos. Os tropeiros chegavam trazendo comida e saíam carregados de ouro, seguindo em direção aos portos do Rio de Janeiro e de Parati. De lá, voltavam com produtos manufaturados vindos de Portugal.
Com tanto vai e vem, plantaram pelo caminho "pousos" em pasto aberto, que depois se transformaram em "ranchos". Tais abrigos foram ponto de partida para a formação de vilas e povoados. Por exemplo, o nome Silveiras vem do Rancho dos Silveiras, família considerada fundadora da cidade.
No entanto, a importância do tropeiro vai além do transporte de riquezas ou cargas. Ele propagou a língua portuguesa, levando notícias e "causos" a lugares distantes e influenciou a linguagem com expressões e provérbios falados ainda hoje. Nos "ranchos" e nas viagens nasceu a cozinha caipira. Nos jogos, com o jogo de truco, na música, chamada moda de viola, e na dança, com a catira e a cana verde, também há influências do tropeiro.
A partir do movimento das tropas e de suas necessidades surgiram novas profissões, como o peão domador, o ferrador, o seleiro, o rancheiro, e uma espécie de veterinário, chamada de aveitar.
Os tropeiros garantiam a própria sobrevivência durante a viagem com feijão, farinha, toucinho de porco, arroz e rapadura para adoçar o café. Como não havia supermercado no meio do caminho, quando a fome apertava, a solução era se virar com o que fosse possível, como os bichos-de-taquara.
Com os tropeiros e suas atividades, passadas de pai para filho, a exploração das jazidas de ouro e diamantes foi possível e a atividade pecuarista se alastrado para outras regiões do país.
Josias Mendes Florêncio faz parte dessa história, assim como tantos outros tropeiros, que mesmo aposentados preservam viva uma cultura, em uma região que hoje vive de lembranças das glórias do passado e luta para manter-se viva.
Você deve estar se perguntando "o que acabou com o tropeirismo?". O automóvel. As estradas. O progresso, caminho natural da vida, dos povos, da história.

segunda-feira, 26 de março de 2007

Arte com as mãos


Foto: Tatiana Alcalde


Geraldo Cardos, conhecido como Dedé, artesão em Silveiras (SP) e filho de troepeiro. Com habilidade, talha um pássaro para provar que realmente dá "vida" a um pedaço de madeira.

Hoje, Silveiras tem rico artesanato. Até 2002 eram 10 núcleos que exportavam para França, Estados Unidos e Argentina, além do que era vendido em outras regiões do Brasil. Cerca de 500 pessoas estavam envolvidas com o trabalho artesanal, representando um terço da renda do município.

quinta-feira, 22 de março de 2007

Artezanato

Foto Tatiana Alcalde


Zaluzejo
O Teatro Mágico
(Fernando Anitelli)

Pigilógico, tauba, cera lítica, sucritcho,
graxite, vrido, zaluzejo
Tomar banho depois que passar roupa mata
Olhar no espelho depois que almoça entorta a boca
E o rádio diz que vai cair avião do céu
Senhora descasada namorando firme
Pra poder casar de véu

Quando for fazer compras no Gadefour:
Omovedor ajactu, sucritcho, leite dilatado, leite intregal
Pra chegar na bioténica, rua de parelepídico
Pra ligar da dorroviária, telefone cedular

Quando fizer calor e quiser ir pra praia de Cararatatuba
Cuidado com o carejangrejo
Tem que tá esbeldi, não pode comer pitz
Pra tirar mal hálito, toma água do chuveiro
No salão de noite, tem coisa que não sei
Mulé com mulé é lesba e homi com homi é gay
Mas dizem que quem beija os dois é bixcional
Só não pode falar nada quando é baile de carnaval

Pra não ficar prenha e ficar passando mal
Copo d´água e pílula de ontemproccional
Homem gosta de mulher que tem fogo o dia inteiro
Cheiro no cangote, creme rinsa no cabelo
Pra segurar namorado morrendo de amor
Escreve o nome num pepino e guarda no refrigelador
Na novela das otcho, Torre de Papel
Menina que não é virgem, eu vejo casar de véu

Se você se assustar e tiver chilique
Cuidado pra não morrer de palaladi cadique
Tenho medo da geladeira, onde a gente guarda iogurte
Porque no fio da tomada se cair água pode dar cicrutche
Tô comprando um apartamento e o negócio tá quase no fim
O que na verdade preocupa é o preço do condostim
O sínico lá do prédio, certa vez outro dia me disse
Que o mundo vai acabar no ano 2000 é o que diz o acalipse

Tenho medo de tudo que vejo e aparece na televisão
Os preju do Carajundu fugiram em buraco cavado no chão
Torroristo, assassino e bandido
Gente que já trouxe muita dor
O que na verdade preocupa é a fuga do seucrostador
Seucrosta quem não tem dinheiro
Quem não tem emprego e não tem condução
Documento eu levo na proxeca
Porque é perigoso carregar na mão

Quando alguém te disser tá errado ou errada
Que não vai S na cebola e não vai S em feliz
Que o X pode ter som de Z e o CH pode ter som de X
Acredito que errado é aquele que
fala correto e não vive o que diz

quarta-feira, 14 de março de 2007

Festa do interior ...


Foto: Tatiana Alcalde

Uma igrejinha, bandeirinhas a dançar no ritmo do vento e gente. Muita gente! É Festa do Bom Jesus, em Silveiras. A cada ano, sempre no mês de setembro, comida farta, música e procissão.

sábado, 10 de março de 2007

Silêncio perturbado

Entre idas e vindas à cidade de Silveiras, interior de São Paulo, guardo dois momentos. A Festa do Tropeiro, que acontece sempre no mês de agosto, e um cortejo fúnebre. São acontecimentos e personagens diferentes, duas formas de romper com o silêncio de uma cidade do interior.
Na festa, o sol deu o ar da graça em um céu azul, presenteando a todos com sua energia. A cidade fervia com tanta gente tentando andar entre as barracas nas ruas e vários sons se misturavam, desde moda de viola até funk!
Duas semanas depois, quando voltei à região, encontrei tudo completamente diferente. O céu estava cinza. O tempo, nublado. Vi pessoas a pé em um cortejo, acompanhando o caixão até o cemitério e o sino da igreja chorando a morte. Outras pessoas acompanhavam, de longe, só com o olhar. Silveiras parou.
Eu estava a uma certa distância, em um ponto mais alto de onde podia ver toda a cidade, e mesmo assim ouvi perfeitamente o coral da igreja e o sino rompendo com o silêncio.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

Primeira impressão


Foto Tatiana Alcalde

O primeiro contato com o tema Tropeirismo, além livros, foi na Festa do Tropeiro, em Silveiras, a 224 km da capital de São Paulo. Eu e meu colega de trabalho, Luís Felipe Figueiredo, chegamos à cidade no sábado, dia anterior ao da grande festa. Logo na entrada há uma estátua de uma mula carregada com balaios. Não há como não perceber. A estátua é destacada pelo fundo amarelo da parede do portal do município. A cor chamou a atenção. Ela também atraiu olhares para os novos visitantes. Podíamos perceber os cochichos do tipo "que carro!" ao avançarmos alguns quilômetros cidade adentro. O veículo cor amarelo gema em que estávamos não passou em anonimato. Fomos, então, apresentados.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

Eu, uma máquina fotográfica e um desafio

O ano era 2002. Último ano da faculdade de jornalismo na Universidade Metodista. O que significava ano de trabalho de conclusão de curso.
Entre fazer um livro reportagem e um ensaio fotográfico, optei pelos dois. As razões não vem ao caso.
O tema era o tropeirismo no Vale Histórico, já que as cidades da região (Queluz, Silveiras, Areias, São José do Barreiro, Arapeí e Bananal, localizadas no Vale do Paraíba Paulista) nasceram de ranchos tropeiros.
Como começar? Onde começar? Em qualquer lugar e de um relacionamento a outro foi o conselho que tirei de todas as leituras preliminares a viagem para a região do Vale do Paraíba.
O lugar, o ponto de partida, já estava definido. Era a cidade de Silveiras.
Com toda ansiedade de novata, peguei as malas e pus o pé na estrada.
A determinação, a ansiedade e o desafio me impulsionavam a buscar uma nova forma de olhar e fazer daquela viagem mais do que um simples passeio: mais do fotografar com técnica e buscar boas imagens, experimentar pela primeira vez o sentimento na ponta dos dedos.