quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Saga da baratinha (ou ligeiras discussões sobre os Baratos da Vida)

Gentileza das pessoas que às vezes se referem a mim dizendo: "Suzana, você é um barato!"
Talvez pelo vasto repertório de besteiróis, associações livres, ou quem sabe pelo comportamento tosco, irreverente e até mesmo bonachão. A verdade é que tal comentário sobre minha pessoa tinha um sentido literal, só eu é quem não sabia (será que já estou com antenas?).
Concluí tal observação esta noite, após indiscutíveis, sórdidas e sinistras manifestações biológicas.
Sei que o tal do Kafka sagrou-se escritor após publicar a triste história do cara que acordou barata. Sei também que o tal Garcia Marquez aproveitou o "bonde" do primeiro maluco quando leu a história e exclamou "Cacete, se o cara ficou famoso escrevendo um Barato desses, eu posso ficar famoso escrevendo qualquer coisa", e depois dessa interjeição o mundo conheceu os "Cem Anos de Solidão."
Mas voltando ao assunto Barato, descobri meu estado fatídico esta noite, quando fui insistentemente assediada por uma barata.
No calor do alto verão, hóspede em casa de uma pessoa querida, resolvi abster-me dos lençóis para melhor desfrutar da brisa noturna. Madrugada adentro percebi a sutil presença de algo que percorria minha barriga exposta pelo modelito short doll. Ao acender a luz nada mais vi além do rastro da bendita, se esgueirando por debaixo da cama.
Assustada, saquei o lençol mais do que depressa e tratei de cobrir-me o máximo que pude, deixando de fora apenas a cabeça, já que ainda não desenvolvi a técnica de respirar sob lençóis.
Já em sono profundo, carregada pelos braços do Morfeu, senti o leve beijo do ar, da brisa, do vento da madrugada, ou melhor, da Barata!
Taciturna, saltei da cama como bala, debati minha cabeça contra a parede, acendi a luz e constatei, pasma que era ELA quem estava em meu travesseiro!
ASSIM JÁ É DEMAIS!
Revoltada com tanto assédio, lancei mão de meu Jorge Amado recém iniciado e fui para a sala, não sem antes entrar debaixo da torneira numa tentativa desesperada de "expurgar" todo e qualquer tipo de atração magnética.
Sentei com meu romance, folheei umas duas páginas, e de repente percebi estar sendo fitada. Olhei pra ela e ela pra mim, mas como a amizade não era recíproca não ofereci nenhum pedaço de pudim, ao que perguntei: Qual é a tua? Suas antenas mexeram e ela se precipitou em minha direção.
Sem tempo para raciocínio lógico, levantei friamente e calquei meu pé direito sobre ela. Fui tão psicótica que fiz questão de espremer uma a uma todas as suas vértebras (se é que essa espécie as tem).
Aliviada, corri limpar a cena do crime e ocultar o cadáver para que minha anfitriã não percebesse o ocorrido.
Após tais eventos, sentei, respirei fundo, e antes de retomar a leitura do romance constatei:
É Suzana, agora sei bem porque te chamam de BARATO!

Por Suzana Ulba