terça-feira, 17 de abril de 2007

Um sorriso e uma careta


Foto: Tatiana Alcalde

"Ah! Agora você está perigosa, está armada". Esse foi o comentário que ouvi de um amigo fotógrafo quando soube que eu acabava de comprar uma lente Canon 75-300 mm.
Porém, não me senti "armada" ao circular no meio da multidão pelas ruas de Silveiras (SP), durante a Festa do Tropeiro.
A lente não intimidava, pelo contrário, atraía olhares curiosos, tímidos, observadores. Não havia como passar desapercebida.
Olhar as pessoas e os acontecimentos ao meu redor por meio de uma lente não foi obstáculo para interagir com o que foram focalizados.
Essa foi uma experiência carregada por lembranças de sorrisos, caretas, conversas e pessoas que andavam pra lá e pra cá para fugir da lente.
Entre tantas reações, guardo a de duas meninas. Ao perceberem que estavam sendo focalizadas pela câmera, riram tímidas, olharam uma para outra, e entendendo-se pelo olhar começaram a fazer caretas. Há também a do homem que começou a tocar pandeiro com mais animação e depois pediu um trocado para molhar a boca no boteco da esquina. E há a reação de duas mulheres. "Olha! Vai sair na Globo", disse uma delas. Vieram me perguntar quando iria aparecer na telinha da Globo e em qual programa. Motivo: queriam que o chefe assistisse e assim confirmasse que realmente tinham ido à Festa do Tropeiro. Nesse caso, toda tentativa de explicação foi frustrada.
O homem pode fazer da câmera um escudo para si ou uma ponte para interagir com quem está do outro lado.
Não há um poder mágico que a lente exerça sobre as pessoas. Prevalece, em quem opera a máquina, o desejo de ver por um novo ângulo.

Um comentário:

Marco Aurélio disse...

"O homem pode fazer da câmera um escudo para si ou uma ponte para interagir com quem está do outro lado."

o_O
MEU.
Numa frase só descubro por que foi frustrada minha carreira de fotógrafo. GÊNIA!